Jerónimo de Sousa com independentes

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Je­ró­nimo de Sousa par­ti­cipou, dia 18, numa sessão em Lisboa com in­de­pen­dentes no âm­bito da pre­pa­ração do XIX Con­gresso do Par­tido.

O en­contro per­mitiu uma in­te­res­sante troca de opi­niões

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Perto de uma cen­tena de pes­soas, não mi­li­tantes co­mu­nistas, en­cheram o salão do Centro de Tra­balho Vi­tória no final da tarde de quinta-feira, dia 18, para con­ver­sarem com o Se­cre­tário-geral do PCP sobre o XIX Con­gresso do Par­tido, no­me­a­da­mente acerca das aná­lises e pro­postas cons­tantes das Teses, bem como das al­te­ra­ções ao Pro­grama do Par­tido. Dizer isto sig­ni­fica que não havia pra­ti­ca­mente tema eco­nó­mico, so­cial ou po­lí­tico que fi­casse à par­tida ex­cluído do de­bate. Como se viria a ve­ri­ficar.

Dos que ali es­ti­veram pre­sentes, muitos são an­tigos com­pa­nheiros dos co­mu­nistas ou par­ti­cipam in­ten­sa­mente ao seu lado nas lutas do dia-a-dia, re­fe­rindo-se, vá­rios deles, ao PCP como o Par­tido. Ou­tros, agora che­gados ou com uma li­gação mais ténue, pro­curam es­cla­recer dú­vidas para, quem sabe, vencer as úl­timas re­sis­tên­cias que os afastam ainda de uma par­ti­ci­pação mais re­gular e in­tensa com os co­mu­nistas.

Acom­pa­nhado, na mesa, por Ar­mindo Mi­randa, da Co­missão Po­lí­tica, Le­onor Barão, do Co­mité Cen­tral, e Ri­cardo Costa, da Di­recção da Or­ga­ni­zação Re­gi­onal de Lisboa, Je­ró­nimo de Sousa co­meçou por su­bli­nhar o in­te­resse da di­recção do PCP em «alargar a dis­cussão [pré-con­gres­sual] a muitos amigos que estão con­nosco em muitas ba­ta­lhas».

O mundo é com­posto de mu­dança

Num tom bas­tante in­formal, Je­ró­nimo de Sousa pro­curou abordar o es­sen­cial da­quilo que es­tará em di­cussão no XIX Con­gresso do Par­tido. Na sua pri­meira in­ter­venção, des­tacou o com­plexo e exi­gente (e pra­ti­ca­mente iné­dito) quadro em que o Con­gresso está a ser pre­pa­rado e será re­a­li­zado, só com­pa­rável com o VIII, re­a­li­zado em 1976, nos al­vores da contra-re­vo­lução.

Quanto ao Pro­grama do Par­tido, o di­ri­gente co­mu­nista su­bli­nhou a sua «ac­tu­a­li­dade e sen­tido de fu­turo», ex­pli­ci­tando o con­teúdo es­sen­cial da De­mo­cracia Avan­çada que o PCP propõe e das con­di­ções ne­ces­sá­rias para a al­cançar, re­a­fir­mando ainda tratar-se de uma etapa da luta do Par­tido pelo so­ci­a­lismo e o co­mu­nismo. Quanto à al­te­ração da de­sig­nação do Pro­grama, Je­ró­nimo de Sousa re­jeitou que os «va­lores de Abril» re­metam para qual­quer sau­do­simo. Pelo con­trário, estes va­lores in­te­gram o pro­jecto de De­mo­cracia Avan­çada e de So­ci­a­lismo pelo qual o PCP se bate.

Na apre­sen­tação das Teses/Pro­jecto de Re­so­lução Po­lí­tica, Je­ró­nimo de Sousa falou da ins­tável e con­tra­di­tória si­tu­ação in­ter­na­ci­onal e va­lo­rizou a re­sis­tência e a luta dos povos ao im­pe­ri­a­lismo, exem­pli­fi­cando com os pro­cessos em curso em muitos países da Amé­rica La­tina. Re­al­çando o de­sen­vol­vi­mento da frente anti-im­pe­ri­a­lista, o Se­cre­tário-geral do PCP su­bli­nhou a im­por­tância de­ci­siva de exis­tirem par­tidos co­mu­nistas fortes e da sua co­o­pe­ração.

Já no que res­peita à aná­lise da si­tu­ação na­ci­onal pa­tente nas Teses, o di­ri­gente do PCP re­feriu-se à na­tu­reza do pacto de agressão não dei­xando es­quecer os res­pon­sá­veis pela en­trada da ile­gí­tima troika es­tran­geira: PS, PSD e CDS. Quanto a so­lu­ções e al­ter­na­tivas, Je­ró­nimo de Sousa foi claro: de­sen­volver e in­ten­si­ficar a luta para pro­mover as rup­turas ne­ces­sá­rias. An­te­ci­pando as ine­vi­tá­veis ques­tões – Quando? Com quem? – Je­ró­nimo de Sousa res­pondeu ci­tando o poeta Ca­mões, lem­brando que «todo o mundo é com­posto de mu­dança».

Opi­niões, dú­vidas e ques­tões

De­pois de Je­ró­nimo de Sousa, a pa­lavra passou para os par­ti­ci­pantes no en­contro. Estes, após os ha­bi­tuais breves ins­tantes de ti­midez, co­lo­caram muitas e per­ti­nentes ques­tões, dú­vidas e opi­niões. O pri­meiro a falar foi um homem que, se­gundo ele pró­prio, «há sé­culos» que vem ao Par­tido, «em­bora não seja mi­li­tante». Re­al­çando a ne­ces­si­dade de o Par­tido co­mu­nicar de forma mais eficaz para «chegar às pes­soas», va­lo­rizou em se­guida as justas crí­ticas que há muito o PCP faz da na­tu­reza e ob­jec­tivos da in­te­gração eu­ro­peia. O jovem que o su­cedeu abordou este mesmo tema, mas de outra pers­pec­tiva, va­lo­ri­zando o in­ves­ti­mento feito no País e te­mendo as con­sequên­cias de uma even­tual saída de Por­tugal da União Eu­ro­peia e do euro.

Um outro par­ti­ci­pante per­guntou como seria pos­sível des­mis­ti­ficar a tese, tão em voga, de que todos os par­tidos e todos os po­lí­ticos são iguais. Uma ideia que pron­ta­mente ali ficou afas­tada, com vá­rios dos pre­sentes a re­al­çarem a «ex­ce­lência» dos eleitos do Par­tido, da As­sem­bleia da Re­pú­blica às fre­gue­sias.

A ne­ces­si­dade de in­ten­si­ficar a luta, a pre­ca­ri­zação do tra­balho in­te­lec­tual – par­ti­cu­lar­mente dos jor­na­listas –, ou a ofen­siva ide­o­ló­gica que quer fazer crer que todos os por­tu­gueses «vi­veram acima das suas pos­si­bi­li­dades» foram ou­tras ma­té­rias le­van­tadas no de­bate.

Par­ti­lhar ideias e re­fle­xões

O en­contro não ter­minou sem que Je­ró­nimo de Sousa vol­tasse a in­tervir, para pro­curar atender às dú­vidas le­van­tadas pelos in­de­pen­dentes ali pre­sentes. Re­fe­rindo-se aos «va­lores de Abril», que se propõe que passem a in­te­grar o tí­tulo do Pro­grama, o Se­cre­tário-geral do Par­tido re­co­nheceu que cerca de me­tade da po­pu­lação por­tu­guesa era cri­ança ou não era se­quer nas­cida quando se deu a Re­vo­lução e que os pro­gramas es­co­lares cada vez mais re­duzem o que foi o mais lu­mi­noso acon­te­ci­mento da his­tória na­ci­onal a um in­sig­ni­fi­cante por­menor.

Ainda assim, re­alçou, estes va­lores estão mais en­rai­zados no seio do povo do que muita gente pode pensar. Mas a questão es­sen­cial, pros­se­guiu Je­ró­nimo de Sousa, é saber se va­lores de Abril como o di­reito ao tra­balho com di­reitos ou como a Saúde e a Edu­cação pú­blicas e uni­ver­sais têm fu­turo ou se são apenas coisas do pas­sado.

Re­la­ti­va­mente à União Eu­ro­peia, e em res­posta a um dos par­ti­ci­pantes, Je­ró­nimo de Sousa ques­ti­onou qual o teor fun­da­mental do in­ves­ti­mento feito no País pela União Eu­ro­peia, para con­cluir que este foi es­sen­ci­al­mente ca­na­li­zado para o abate das pescas, da agri­cul­tura, da si­de­rurgia ou da in­dús­tria naval. Ti­vessem os su­ces­sivos go­vernos man­tido todas estes sec­tores eco­nó­micos ac­tivos e a dí­vida não atin­giria, nem de longe, os ní­veis ac­tuais.

Quanto a uma even­tual saída da União Eu­ro­peia, o Se­cre­tário-geral do Par­tido re­meteu para a for­mu­lação cons­tante no pro­jecto de al­te­ra­ções ao Pro­grama do PCP, que re­a­firma o di­reito do povo por­tu­guês de em­pre­ender um rumo de de­sen­vol­vi­mento so­be­rano, re­mo­vendo os obs­tá­culos que se co­lo­quem pe­rante a con­cre­ti­zação deste ob­jec­tivo.

Quanto ao «eles são todos iguais», Je­ró­nimo de Sousa re­co­nheceu ser uma ideia – falsa – que tem hoje muita força. Lem­brando o «com­pro­misso de honra» dos eleitos co­mu­nistas com o Par­tido, de não serem fi­nan­cei­ra­mente be­ne­fi­ci­ados nem pre­ju­di­cados com o exer­cício de cargos pú­blicos, o Se­cre­tário-geral do Par­tido ga­rantiu mesmo que se não fosse assim não con­se­guiria falar dos pro­blemas dos tra­ba­lha­dores e do povo da forma como o faz. Os co­mu­nistas são di­fe­rentes, ga­rantiu, tanto pela forma de estar na po­lí­tica como pelo ideal que de­fendem.

 



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